António dos Santos Vicente

Poeta, Activista e Escritor.

Livros Publicados


A sua biografia


António dos Santos Vicente nasceu em 1930, na aldeia de Fajão, concelho de Pampilhosa da Serra, no seio de uma família pobre e numerosa, sendo o quarto de 13 irmãos. Ficou órfão de pai muito cedo, o que veio aumentar as dificuldades de sobrevivência da Família, pelo que, ainda menino e moço, teve de começar a carregar molhos de lenha e mato, a guardar as cabras e a trabalhar nos chães, descalço, mal agasalhado e quase sempre «com a barriga a dar horas», ao mesmo tempo que frequentava a escola, para aprender as primeiras letras.

O «Tonito Expediente» (assim era apelidado pelos adultos) era esperto, ladino e muito loquaz, mas por dificuldades de ordem material e ainda porque, naquele tempo, faltavam os professores por longos períodos, devido à falta de conforto e de acessos, apenas conseguiu chegar à 3. a classe, habilitações com que emigrou para Lisboa, apenas com 15 anos de idade, em busca de um lugar ao sol.

Aqui também a vida não lhe sorriu e «passou as passas do Algarve» para sobreviver, pois naquele tempo era muito difícil arranjar emprego. Desempenhou as funções de marçano, durante três anos, em algumas mercearias, a última das quais no Laranjeiro, acabando por ser despedido e ficar desempregado. Conseguiu sobreviver até ser chamado para a tropa, juntando-se a um «gang» de desprotegidos da sorte, que rebuscava desperdícios, limalha e tudo que pudesse ser trocado por uns tostões, na área do Alfeite.

Assentou praça no Regimento de Cavalaria de Castelo Branco, conseguiu tirar a carta de condução de veículos ligeiros e pesados, e transitou depois para a Escola do Exército, onde desempenhou a função de condutor-auto, até completar os dois anos de obrigações cívicas para com a Pátria e passar à disponibilidade.

Outra fase difícil o aguardava, pois quem não tivesse pelo menos a 4. a classe, não conseguia emprego de jeito. Passou a trabalhar, como moço, numa Casa de Móveis, e matriculou-se numa Escola nocturna, para aumentar os seus conhecimentos literários, mas o «malandro» do Encarregado, em vez de lhe facilitar a vida, procurava dificultar-lha, por inveja ou mau íntimo, arranjando sempre a entrega de um colchão ou de um móvel para depois das 19H00, para o impedir de assistir às aulas, com a ameaça de que se se recusasse a cumprir seria despedido (necessidade a quanto obrigas!...).

Conseguiu finalmente ingressar na Companhia Carris, primeiro como agulheiro e depois como guarda-freio e condutor, passando para os autocarros, logo que obteve o averbamento de «serviço público», na carta de condução.

Entretanto contraiu matrimónio com uma Prima e enfrentou as dificuldades comuns a todos os jovens casais da época, relativamente à habitação — uma parte de casa, em Campo de Ourique; uma casa a meias, em Santa Marta, que culminou com desavenças e separação; umas águas furtadas na Estrela, sem espaço para a mobília de quarto; e finalmente (decorridos dois penosos anos) uma casa com algum conforto, na Pontinha, que serviu de residência e «Salão de Cabeleireira» para a Esposa.

Talvez por ter tido uma infância e adolescência de privações, quando a sua situação económica melhorou, logo começou a interessar-se pelo seu semelhante e a desenvolver acções de solidariedade social. Primeiro como associado e depois como secretário dinâmico de duas Associações regionais e do «Grupo Excursionista da Carris» que, à falta de Sindicato livre, defendia os interesses de classe, de forma camuflada, para escapar às malhas da Polícia Política, que tudo controlava.

E foi precisamente essa acção de bem-fazer, mendigando contributos pecuniários dos Colegas, no dia de recebimento da féria, para entregar às Famílias de outros colegas presos por «motivos políticos» (leia-se sindicais, de estrita defesa dos motoristas, guarda-freios e condutores, contra a prepotência da Entidade Patronal), que o forçaram a emigrar, para fugir ao encarceramento. É que os funcionários externos daquela Empresa monopolista de transportes só tinham deveres e nenhum direito. Como exemplo, citam-se dois casos: terem de pagar bilhete, se utilizassem o transporte na hora de folga; e pagarem do seu bolso, mediante desconto no vencimento, o valor dos danos, resultantes de acidentes de viação.

Santos Vicente lutou contra esse estado de coisas e conseguiu algumas melhorias, mas tornou-se elemento incómodo para a Administração, passando a ser vigiado de perto pelos PIDEs e «bufos» internos. Depois da prisão de vários colegas, alguém o avisou que estava a chegar a sua vez de «ir para a gaiola», e a solução foi embarcar em segredo para o Canadá, abandonando abruptamente a vida de relativo conforto e desafogo económico que tinha, graças ao esforço dele e da Esposa.

Já com dois filhos de tenra idade (um menino e uma menina), enfrentou enormes dificuldades, para conseguir um tecto e uma ocupação que lhes proporcionasse o sustento. Nas mais variadas tarefas, «correu seca e meca»: desde servente de limpeza, em diferentes cidades, a soldador, a madeireiro, servente de hospital, operário de manutenção e operador de máquinas de tratamento de água. Foi humilhado (pelo desconhecimento da língua) e atraiçoado por concidadãos, mas também ajudado por almas boas de outros países (igualmente imigrantes) e Encarregados humanos.

Frequentou uma escola nocturna para aprender a ler, escrever e falar inglês; tirou o curso de contabilidade e depois um «curso de navegação nas águas interiores» — Lagos, ascendendo a piloto de barco misto (passageiros e carga), função que desempenhou durante 21 anos, no Lago Ontário, até se reformar em 1994.

Depois de conhecer a língua e a legislação locais, transformou-se em «advogado de defesa» dos injustiçados, ajudando todos quantos se lhe dirigiam (Açoreanos, Continentais e de outras latitudes) e albergando e alimentando muitos deles gratuitamente, por períodos mais ou menos longos, consoante as necessidades de cada um. Deslocava-se pessoalmente às Repartições, escrevia a Ministros e recorria aos jornais, para fazer ouvir a voz da razão e combater vícios e incompetências. São muitos os que lhe devem a solução dos seus problemas e a reparação de injustiças, tornando-se credor da estima e gratidão de quantos privaram com ele, sobretudo porque nunca cobrou taxas nem despesas e agiu sempre pelo prazer de ser útil ao seu semelhante.

Mesmo aposentado, não cruzou os braços, e de vez em quando lá seguia mais uma carta para este ou aquele governante, ou uma notícia para os jornais editados em língua portuguesa.

Mais uns detalhes...

4
Livros publicados
8
Jornais com os quais colaborou com artigos
70+
Anos de Escritor
75+
Anos de Poeta e Actvista

O meu contacto


Toronto, Canada

Email: [email protected]

Para me contactar... Envie-me uma mensagem: